A arte de fotografar permite perenizar instantes, arquivar memórias, como prova ou testemunho de momentos que marcaram a vida de pessoas ou que até mesmo entraram para a história, como foi a fotografia de Huynh Cong Ut (em 08/06/1972) mostrando a menina Phan Thi Kim Phuc, correndo com o corpo queimado, por uma estrada do Vilarejo de Trang Bang, após o local ter sido bombardeado com napalm. Tal registro transformou-se no símbolo de combate à Guerra do Vietnã.
Outra foto que se tornou ícone na campanha de combate à fome no Sudão foi "A Menina e o Abutre", de autoria do sul-africano Kevin Carter, capturada na Aldeia de Ayod, no Sudão (em 11/03/1993). Infelizmente, após ganhar o Prêmio Pulitzer de Fotojornalismo no ano seguinte, Kevin Carter suicidou-se, talvez não suportando a carga emocional de críticas recebidas por ter declarado que após tirar a foto, embarcara de volta à África do Sul. O que ele não contara, foi que os pais da criança estavam ali, muito próximo, descarregando mantimentos doados pela ONU.
Entre "os grandes fotógrafos da história", Dorothea Lange imortalizou-se com a fotografia Mãe Imigrante, uma imagem que também se tornou símbolo da grande depressão, de 1929 e Henri Cartier-Bresson iluminou o campo fotográfico com o conceito "instante decisivo", aquele quando cabeça, olho e coração estão alinhados.
No Brasil, Sebastião Salgado, fotógrafo social, membro da Academia de Arte da França e Josep Ruaix Duran, o fotógrafo das grandes revistas, são dois grandes ícones da fotografia, com trabalhos conhecidos mundialmente. Como prata da casa, destaco o trabalho do professor Dartanhan Baldez Figueiredo, clicando em preto e branco, registrando as lutas sociais de nossa Santa Maria.
Antigamente tal arte parecia ser reservada a iniciados, detentores de saberes quase secretos, temperados com gotas de sensibilidade, olhar perscrutador, capazes de captar emoções e movimentos; revelar dramas e vitórias, preservando enquadramentos, iluminação, ângulos e perspectivas. No fotografês da minha infância desfilavam termos, como "objetiva", " Kodac", "posar", confundindo marcas com artefatos, e o retratista era o mago da câmera, personagem central do ato de capturar e eternizar imagens. Naquele tempo, o espaço em que se daria a foto era cuidadosamente escolhido, não se posava para fotos em frente a espelhos de toaletes de restaurantes, não se registrava caras, muito menos bicos com os lábios. E selfies, então? Inexistiam. A fotografia tinha algo mais do que siluetas ou contornos.
A prosperidade é questão de consciência
O advento do celular e do Smartphone contribuíram para a democratização desse campo, tornando-nos todos potencialmente fotógrafos, porém rompeu com a magia, e na ânsia de tudo registrar ou compartilhar, esquecemos de perguntar: esta foto serve para que?
Fotografia era emoção, magia, acompanhadas da aquisição de álbuns, porta-retratos e de reuniões com familiares ou amigos para olharem as fotos reveladas se divertindo, revivendo aquele momento. Hoje guardamos ou esquecemos em pastas no computador. A fotografia perdeu a narratividade, a opinião. J. R. Duran afirma que a linguagem narrativa da foto revela o ponto de vista do seu autor. Se a fotografia não for capaz de revelar sua opinião, não é foto, é imagem. As redes sociais estão saturadas de imagens.